25 nov 10
outros bla bla blastricô e crochê
Lições de música – aplicadas aos crafts
por Claudia

Shekoyokh em Londres
Banda Shekoyokh tocando no mercado de flores de Columbia Road em Londres

Faz um tempo participei de um workshop de instrumentos de sopro (flauta, clarinete e sax) na escola de música onde eu estudava. O objetivo era reciclar conhecimento, aprender um pouco mais de instrumentos correlatos e, no fim do dia, até arriscar uma jam session com outros alunos. Como minha flauta anda parada há uns bons 2 anos, esta última parte até me deu um frio na barriga – estava mais interessada na parte de ouvir o que os convidados da escola tinham a contar.

O primeiro deles era o Ivan Meyer, irmão do meu professor. Ele começou contando um resumo de sua vida, desde criança quando era um mau aluno, passando pela adolescência quando a música entrou de vez em sua vida, até os dias de hoje. Ele aproveitou essa experiência para falar sobre aprendizado, esforço, dom e vontade.

Apesar do fio condutor ser música, eu não conseguia evitar fazer um paralelo com as asrtes manuais. Principalmente porque essa palestra aconteceu bem na época em que eu estava aprendendo a fazer tricô com os vídeos que a Andrea disponibilizou aqui no Superziper.

Ele falava de sopro e de leitura de partitura; eu lembrava do jeito de enrolar a lã nos dedos e de como contar os pontos tricotados. Antes que eu me perdesse nos pensamentos, tirei rapidamente meu caderninho da bolsa e anotei várias coisas legais. São 5 lições de música que gostaria de compartilhar com vocês – acho que tem tudo a ver com crafts também!

TEMA 1: dom X talento X vocação
Na música sempre aparece alguém que diz “aaah, mas eu não tenho (ou não nasci com) esse dom…”. Segundo a lógica dele, há salvação. Ele explicou que o dom realmente é algo divino, que nasce junto com a pessoa. Já o talento é fruto de trabalho, enquanto que a vocação é a força de vontade. A melhor combinação que pode existir é quando os três estão em sintonia. Lembrem de pessoas e vocês vão achar exemplos de gente que tem o dom, mas não tem vontade de explorá-lo. Ou de quem tem vontade mas não quer investir talento (trabalho). A boa notícia é que com vontade e talento dá para compensar a falta de dom! Ou seja, muito esforço mental e físico!

Minha lição: vou insistir no tricô. Mesmo tendo aprendido a técnica com bem mais de 30 anos, ainda tenho esperanças. Quero muito avançar nas lições para um dia fazer a blusa das corujinhas!

TEMA 2: repetição
Quando você aprende uma coisa nova, o cérebro ainda está aprendendo a formar o caminho deste aprendizado. Quanto mais você repete, mais você exercita a sua memória muscular para aquela atividade. Ensine seu cérebro a formar uma imagem mental daquela atividade, deixe que ele capte o ritmo, associe com algum “mantra”. Com muito esforço e repetição, você vai se sentir cada vez mais confortável. Comparando com o karatê, os alunos aprendem o movimento praticamente em câmera lenta. Assim eles podem memorizar. No começo, as coisas precisam ser visualizadas lentamente, até o cérebro absorver. Mas depois que aprendeu, você consegue fazer mais rápido.

Minha lição: tricotar muito muito muito. Vou saber que aprendi no dia em que eu consiga assistir TV tricotando ;-)

TEMA 3: escolha os instrumentos
Tem guitarrista que gosta de usar as cordas “duras”. Tem outros que preferem as mais leves. No sax, tem gente que prefere as molas soltas, ou leves, ou duras. Não tem certo ou errado. Cada um deve usar o  que funciona melhor para a sua sensibilidade. Depende da mão da pessoa,  do jeito de dedilhar,  do jeito de soprar….. Para descobrir, só testanto os extremos e ir percebendo o que funciona melhor pra você.

Minha lição: já testei agulhas grossas e também as mais finas. Por enquanto só usei das de plástico. Na próxima edição do PicKnit vou pedir emprestado para testar as circulares de metal e também as de bambu. Vai que alguma delas funciona melhor comigo!

TEMA 4: simplifique
O começo do aprendizado pode ser muito confuso para a cabeça. É tanta informação que você não sabe o que fazer primeiro – muita coisa para controlar ao mesmo tempo. Quem aprende a tocar flauta, por exemplo, tem que estar atento para a forma de soprar, o formato dos lábios, a pressão do ar, o jeito de dedilhar as teclas, a posição dos braços – isso sem falar na leitura da partitura e no ritmo da música. É tanta coisa que pode gerar ansiedade. E isso pode levar a um bloqueio, nada dá  certo, a pessoa se irrita e ….desiste! Que tal então isolar as tarefas? Muitos músicos treinam só o dedilhado ou só o sopro. Se uma pessoa que toca flauta não quer incomodar os vizinhos de noite, ela pode aproveitar para treinar só o movimento dos dedos, sem soprar. É um jeito de ajudar o cérebro a se sentir confortável com essa etapa.

Minha lição: antes de partir para a blusa das corujas, vou fazer muitos quadrados de tricô, treinando vários tipos de pontos isoladamente. Quando eu estiver a vontade com eles, atacarei projetos mais complicados. Antes da blusa, que pelo menos eu consiga fazer o chaveirinho de corujas!

TEMA 5: o que NÃO estudar
As vezes tem gente que estuda música de 4 a 5 horas e não melhora. Continua tocando muito mal. Daí essa pessoa sai de férias por um mês, esquece o instrumento, e quando volta para ensaiar é outro som, tudo melhora. Como explicar isso? Pode acontecer de essa pessoa ter aprendido o erro e gastar toda essa quantidade de horas diárias reforçando o erro. Quando a pessoa pára, o cérebro se esquece desse condicionamento e a pessoa pode voltar mais relaxada e acertar o jeito. Por isso que é importante ter alguém com quem dividir a técnica, participar de workshops e encontros, falar com pessoas, ver como os outros fazem, aprendem e ensaiam. As vezes essa troca de experiências cara a cara abre novos caminhos. Aconselho.

Minha lição: quando eu copiava as etapas do tricô nos vídeos, estava tão tensa querendo conseguir fazer um ponto que nem reparei que eu estava fazendo o movimento espelhado no ponto meia – eu passava a lã totalmente ao contrário. Quando encontrei a Andrea pessoalmente, aproveitei para tirar dúvidas e no meio do papo ela reparou que eu estava fazendo o movimento errado. Mas eu não tinha percebido porque do meu jeito as coisas funcionavam – até fiz um postal de tricô desse jeito! O problema é que desse jeito, eu teria problemas quando começasse a misturar o ponto meia com outros tipos de pontos. Ela me corrigiu, devagar eu decorei o novo jeito e agora eu tricoto do jeito certo.

Espero que esses ensinamentos possam ser úteis pra quem passa por aqui, independente de qual é a técnica que cada um pratica. E ainda pode servir de incentivo para quem duvida que um dia pode vir a costurar, tricotar, crochetar ……ou se empenhar em aprender qualquer outra forma de criação!

27 ZigZags
  1. Larissa disse:
    25 de novembro de 2010 às 01:38

    Adoreeeeeeiiii esse post!!!!!

    Demais demais demais!! Eu to aprendendo a tocar guitarra, e por vezes desanimo um montão, achando que não é pra mim.. ler isso foi bem legal.. vou imprimir pra ler sempre!!! E é serio!

    Além disso, to doida pra aprender desenhar, crochetar, tricotar, costurar, fazer artesanato com feltro e tbm caixas… nossa.. eu precisava mesmo desse post,né? hehehe

    Agora preciso controlar a ansiedade e começar uma técnica por vez, na ânsia eu acabo só pesquisando e não fazer nada… e como vc bem falou, eu tenho que treinar coisas básicas antes tbm.. por exemplo.. já queria tentar fazer uma blusa de crochê, que por sinal tem um gráfico em japones!!! hahaha Melhor eu fazer quadradinhos pra acostumar a fazer pontos neh… hehe

    Nossa falei pra cacete.. sorry!!
    Obrigada pelo post =]
    (sou sua nova leitora. Prazer, Larissa =P)

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:12

      Oi Larissa, prazer! Pode falar muito, a gente adora comentários longos, é sempre bom interagir.

      Faz vários quadradinhos sim! Além de servir de treino, quando tiver muitos depois você junta um no outro e transforma em alguma coisa útil :-) Tipo, uma almofada feita com seus primeiros crochês, vai ficar fofo e é uma boa lembrança pra quando você for mega-power :-)

      Sobre o comentário de baixo de valer para a vida, acho que é isso mesmo. Absorver todos esses ensinamentos é dar uma desacelerada. É curtir o devagar mas saber que vai chegar lá. Lembra um pouco também a história do slow food X fast food.

      Bjs e volte sempre!

      Responder
  2. Larissa disse:
    25 de novembro de 2010 às 01:43

    Desculpe, mas tive que voltar p/ fz um comentário que esqueci de fz no recado anterior: Vc fez um paralelo entre o lance da música e o tricot.. mas eu acho que dá pra fazer um paralelo com tudo na vida… eu por exemplo.. sou super ansiosa, quero tudo pra ontem, daih qdo nao consigo imediatamente, acho que é impossível e jogo a toalha… sem falar que não me organizo pra fz uma coisa por vez daí minha vida fica uma bagunça do caramba, fico soh planejando planejando, qrendo TUDO (i want it all, and i want it now) e no final não faço nada.. e me sinto “bagunçada” totally… então, essas dicas são valiosas em todos os ambitos da vida (de pessoas como eu pelo menos hauha)

    *precisando organizar a vida

    Responder
  3. edna disse:
    25 de novembro de 2010 às 09:00

    Oooiii.

    Adorei este post. Tenho muitas saudades de tocar um instrumento.

    Beijos

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:15

      eu também… queria voltar a tocar flauta, mas tô tão sem tempo, humpf :-(

      Responder
  4. harumi disse:
    25 de novembro de 2010 às 10:38

    adorei muito! adorei! adorei!
    tudo a mais pura verdade! pra ler e reler várias vezes!!! e tornar a vida mais fácil e melhor, né?
    obrigada, meninas!

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:16

      pra imprimir e deixar com o instrumento :-) ou na caixinha de costura, rs

      Responder
  5. Sunset disse:
    25 de novembro de 2010 às 10:51

    Excelente post!

    Engraçado que, em outubro, estava conversando sobre isso com um amigo meu (falando de outro amigo que escreve muito bem, mas não aproveita esse dom), exatamente como está explicado no primeiro tema.

    Bjs,
    Ana

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:08

      Manda o texto pra ele ^___^

      Responder
  6. Laura disse:
    25 de novembro de 2010 às 10:51

    Oi,Cláudia!
    ADORO o Superzíper e acompanho vocês a algum tempo…
    Nossa, esse post foi uma luz, uma verdadeira mola propulsora no meu ânimo (que estava praticamente zerado…)!
    Não vou desistir dos meus intentos (sejam eles crafts ou não)!
    Obrigada! Obrigada mesmo!
    Beijo grande!

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:07

      Que bom Laura, depois volta para contar o que você fez de ânimo novo!!

      Responder
  7. 25 de novembro de 2010 às 11:44

    Você com este texto comprova que na vida TUDO é UNIDADE!
    …As vezes sabemos as coisas muito bem… mas a ansiedade realmente derruba tudo! Boa partilha!

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:07

      Ansiedade, um dos grandes problemas dos dias de hoje, né?

      Responder
  8. 25 de novembro de 2010 às 13:38

    Obrigada pelo texto! Como todas disseram, ele será muito útil para várias áreas de nossas vidas. Parabéns!!!

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:05

      Vou repassar os agradecimentos pro professor ;-) Ele que falou todas essas coisas legais!

      Responder
  9. 25 de novembro de 2010 às 18:32

    Adorei as liçõe meninas, preciso treinar minha mente para concentração e este post foi muito oportuno, obrigada :)
    Flávia –

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:04

      De nada! Pra mim também serve como reforço para os meus (muitos) momentos de distração!

      Responder
  10. 25 de novembro de 2010 às 22:34

    Além de ser artesã também toco piano e órgão eletrônico e como se diz uma eterna aprendiz,porque em música e artesanato,sempre há algo novo para aprender. Então,entendo perfeitamente o que representa este 5 itens,que valem também para a vida.
    Beijos. Elaine Regina

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:05

      Concorco, valem pra vida!

      Responder
  11. 26 de novembro de 2010 às 10:12

    Nossa!Maravilhoso!Essa semana tive uma pequena discussão com minha filha que estudou canto lírico, sobre talento etc.Eu já cantei em alguns lugares, mas nunca estudei.Essa comparação com crafts veio bem a calhar.Estava pensando em postar sobre isso no meu blog, mas não conseguia encontrar as palavras certas para o quê eu sentia, tanto para o canto, quanto para meus patchs.Caiu como uma luva.Parabéns!

    Responder
    • Claudia disse:
      26 de novembro de 2010 às 14:02

      De tudo que o professor falou, essa parte do talento me impressinou porque sempre ouço muita gente reclamando que não tem dom, etc. É sempre bom saber que com esforço dá para virar o jogo – seja para música ou para patchs!

      Responder
  12. Joice disse:
    26 de novembro de 2010 às 19:22

    Muito legal seu post, adorei!!!

    Responder
  13. adriana disse:
    26 de novembro de 2010 às 19:43

    olá!
    na qualidade de flautista e tricoteira, adorei o post!
    engraçado q eu aprendi a tricotar qdo menina, mas através dos videos do sz descobri q fazia a laçada ao contrário. pra reaprender, no início foi tenso, mas logo fiquei craque, do jeito certo. eu tricoto até bem e rápido mas não sei fazer coisas sofisticadas, e aprendo muito com vcs.
    mas eu sou muito barroca, eu não sigo receita, eu interpreto!hahaha
    mas sou bem nerd, também.
    realmente a dedicação e a disciplina são até mais importantes do q o dom, até pq o dom é algo muito complexo, e cada pessoa tem uma particularidade, suas múltiplas inteligências…não dá pra eleger UM.
    quanto à prática…nada acontece sem ela.
    beijos

    Responder
    • Claudia disse:
      28 de novembro de 2010 às 22:44

      olha so! a gente ja pode ate abrir um clube das flautistas e tricoteiras ;-)

      gostei da sua frase final, ela resume tudo: nao acontece nada sem a pratica! bem colocado!

      bjs

      Responder
  14. 26 de novembro de 2010 às 21:24

    Realmente vc soube expressar todo o sentimento craft, tudo o que vc falou é a pura verdade, eu tbm comecei a aprender crochê com a minha mãe e realmente achei tudo muito difícil e complicado, parecia um bicho de sete cabeças mas aos poucos a gente vai desvendando o mistério, é só ter vontade e disposição pra aprender, o que vc falou sobre dom e talento é a pura verdade, tudo que se faz na vida requer muito esforço e concentração, pq sem suor não há recompensa, e esta recompensa é um trabalho lindo e maravilhoso feito pelas suas próprias mãos…e sobre trocar experiências vc está completamente certa, pq às vezes o que vc acha muito difícil outra pessoa acha muito simples e te explica de uma forma que vc não conseguia enxerguar e tudo muda, vc consegue fazer se grandes complicações, por isso eu já decidi que no ano que vem vou fazer vários cursos, não sei do que ainda, mais tudo o que eu quero é trocar experiências, ideias, conflitar opiniões.
    Amei esta matéria vc realmente nos fez pensar diferente, de outro modo,é outra visão de mundo, estou maravilhada…
    Tudo de bom pra vcs, adoro tudo que vcs fazem…
    Muitos bjs e até mais…

    Responder
    • Claudia disse:
      28 de novembro de 2010 às 22:41

      oi ana, fico feliz que a materia tenha sido util e ajudado a refletir. faz muito bem em querer fazr cursos. tem epocas que a gente da uma parada, mas depois e’ bom retomar – independentemente do assunto. a troca com o professor e entre alunos e’ sempre interessante! bjs e volte mais!

      Responder
  15. Jessica disse:
    27 de dezembro de 2010 às 15:37

    Olá!
    Muito bom esse post!
    Não tenho muita experiência em tricô e crochê, mas adoro.
    E tb toco violino.
    Se conseguir aplicar essas lições na música e nos trabalhos manuais, tenho certeza q conseguirei evoluir melhor.
    Abraço.
    Parabéns pelo blog!

    Responder
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