12 ago 14
craft tourinspiração
Peru: tradição em tingimento natural
por Claudia

Peru: tingimento

Acabei de voltar de uma curta viagem ao Peru, mais precisamente Cusco e arredores, e fiquei encantada de ter tido a oportunidade de ver os bastidores da produção artesanal. O povoado de Chinchero fica na região do Valle Sagrado. Em um dos passeios às ruínas incas, houve uma parada no pequeno Centro Têxtil Urpi, para conhecer um pouco mais sobre o tingimento natural, técnicas e ferramentas de tecelagem tradicional ainda utilizados pelas mulheres do local.

Atenção: este post contém muitas fotos… Foi difícil fazer uma seleção mais enxuta ;-)

Peru: tingimento

O local é pequeno e bem turístico, uma estrutura pronta para receber grupos de visitantes. Mas tudo muito organizado e bem ajeitado. Eles sabem o que mostrar e o que as pessoas querem ver. Tinha até lhamas!

Peru: tingimento

Os turistas eram levados a este mini auditório bem rústico para ouvir as explicações sobre os processos de tingimento! E para quem precisava se acostumar com a altitude, o famoso chazinho de folhas de coca…

Peru: tingimento

A variedade de tonalidades e cores me impressionou. Na verdade, elas já chamam a atenção nos artesanatos típicos do Peru. Foi muito interessante ver como eram feitas.

Peru: tingimento

Antes de ir às cores, registrei mais duas partes importantes do processo:

1. lavagem da lã: a lã da tosa da lhama ou da alpaca precisa ser limpa antes de tudo. Eles usam o ‘gigantón’ (ou ‘zajtán’), a raiz de um cacto para ensaboar e tirar a gordura e sujeiras. Esta raiz também era usada para lavar os cabelos, também conhecida como ‘shampoo incaico’. Na foto ao lado, coador feito de palha.

Nota: alguns nomes são em castelhano, outros em quechua ou aymara. A escrita tem várias formas, então vou atualizando este post conforme recebo informações mais precisas.

Peru: tingimento

2. mistura com minerais ou outros elementos: a tinta raramente é utilizada pura. Estes aditivos são usados para ajudar na fixação da cor, variar tonalidade e combinar propriedades químicas para atingir o resultado esperado. O limão misturado com a cochonilha suaviza os tons. Na foto do meio, sal da salina de Maras (também desta região).

Peru: tingimento

Mas vamos às cores e de onde vem, que é o que mais interessa.

VERMELHO: A principal cor é o vermelho. Ele vem da cochonilha e rende vários tons e variantes – dizem que até 18!

Peru: tingimento

A cochonilha é um inseto parasita que se alimenta da seiva dos cactos da região. Ou seja, é uma praga! Mas eles descobriram que ele produz um composto de tom avermelhado perfeito para tingimento! Aqui no meu quintal já vi este tipo de pulgão, mas não tão gordos e nem tão abundantes em tinta.

Peru: tingimento

Vocês não imaginam o que uma “bolinha” dessas estourada na mão faz! As meninas comentam que usam nos lábios como batom. E demora para sair. Eu manchei os dedos e no dia seguinte ainda estava rosa.

Peru: tingimento

AZUL:este tom vem da ‘flor de hancas’.

Peru: tingimento

LILÁS: folhas secas de awaipili.

Peru: tingimento

ROXO: água de fervura do milho roxo, que eles chamam de maíz morada. Este milho é muito usado para fazer a bebida típica, ‘chicha morada’.

Peru: tingimento

VERDE: folhas de chilca.

Peru: tingimento

VERDE ACINZENTADO: folhas de kinsacucho, também conhecido como trés esquinas.

Peru: tingimento natural

VERDE CLARO: folhas de eucalipto.

Peru: tingimento

AMARELO: flor de retama.

Peru: tingimento

OCRE: flor de coli.

Peru: tingimento

LARANJA: cortiça de kehuniya.

Peru: tingimento

TERRA: vem do musgo que nasce em pedras, eles chamam de ‘barba de las piedras’.

Peru: tingimento

Mais alguns detalhes: coco de lhama para ajudar no fogo, artefato de madeira para fiar lã e canecas e utensílios usados no tingimento.

Peru: tingimento

Neste local, é possível também acompanhar o processo de como as artesãs preparam as tramas e tecem fitas, tapetes e mantas. As cores e os desenhos têm significado e contam histórias. Elas sabem tudo de cabeça e brincaram que não usam revistas ou receitas.

Peru: tingimento

No final, é possível comprar produtos feitos pela comunidade. Há bancas com malhas, tapetes, bolsas, luvas, gorros, cachecóis e pequenas lembrancinhas. Não aceite o primeiro preço que disserem – lá, eles esperam que você negocie e peça desconto. Comigo foi assim…

Peru: tingimento

 

Na tentativa de escrever os nomes das plantas corretamente (não confiem 100%), encontrei na internet alguns artigos bem interessantes e bem mais completos sobre tingimento natural. A quem se interessar, recomendo (conteúdo em espanhol):

. Fórum sobre pigmentos naturais para fibras

. Documento ‘Tintes Naturales’, da Escola de Belas Artes do Peru

. Plantas tintoreas, em Etnobotánica

. Tinturas naturales

Para os interessados em conhecer o pueblo de Chinchero, o mais fácil é visitar quando estiver em Cusco. Este local costuma ser parada de quem faz tour pelo Valle Sagrado. De Cusco, é cerca de meia hora de ônibus ou van. Você pode organizar visita através de uma das mais de 1.000 agências de turismo de Cusco ou tentar ir sozinho usando transporte local. Em Cusco, peça informações sobre as vans (as nossas conhecidas ‘lotações’) para Chinchero, um distrito da provincía de Urubamba.

22 ZigZags
  1. telma disse:
    12 de agosto de 2014 às 19:23

    eu quase enlouqueci em chinchero, pela falta de ar e pelas lãs. super hiper mega turistico? certamente. mas ainda assim o maior barato aquelas mulheres todas reunidas explicando o processo de tingimento. comprei 3 bolinhas de lã, que até hoje carregam o cheiro daquele lugar… tão aqui no aguardo de algum projetinho…
    sobre a mágica da tintura, tem esse videozito que eu fiz, só pular pro 2:29′:
    https://www.youtube.com/watch?v=IegmN346VAk

    Responder
    • Claudia disse:
      13 de agosto de 2014 às 01:26

      Ah sim, esqueci de comentar dos possíveis efeitos da altitude. É que quando cheguei em Chinchero eu já estava mais acostumada, pero no mucho. Obrigada pelo vídeo – adorei a trilha sonora do Turbopotamos. Não conhecia, vou pesquisar :)

      Responder
    • ADEILSON disse:
      03 de novembro de 2014 às 21:17

      Olá Claudia, tudo bem? Gostaria muito tirar umas dúvidas com você sobre essa viagem, pois, quero ir para fazer uma pesquisa sobre tingimentos naturais.

      Agradeço se puder me contactar via email.

      Obrigado.

      Responder
      • ADEILSON disse:
        03 de novembro de 2014 às 21:20

        QUERIA SABER SE VC CONHECE ALGUMA ASSOCIAÇÃO QUE POSSA ME RECEBER!

        OBRIGADO.

        Responder
    • gabriela danquimaia disse:
      07 de fevereiro de 2017 às 15:28

      Olá! Que lindooo! Sou apaixonada por lãs. Minha viagem será para Lima. Alguém conhece algum lugar para comprar lãs por lá?

      Obrigada!

      Responder
  2. 12 de agosto de 2014 às 19:44

    Que lugar sensacional! Amei as cores, e todas naturais! Com certeza vai entrar na minha lista de lugares a conhecer!

    Responder
    • Claudia disse:
      13 de agosto de 2014 às 01:20

      Cores lindas mesmo, fiquei encantada! Vale a visita :)

      Responder
  3. Beatriz Medina disse:
    12 de agosto de 2014 às 20:26

    Só uma observação: o “artefato de madeira” é um fuso.

    Responder
    • Claudia disse:
      13 de agosto de 2014 às 01:19

      Eba, valeu pela informação!

      Responder
  4. 12 de agosto de 2014 às 21:48

    Que incrível, Claudia! Mesmo tendo um apelo comercial fiquei bastante intrigada a respeito das substâncias utilizadas para tingir a lã. Incrível imaginar que isso possa ser feito apenas com produtos naturais (como era antes do tubinho de Guarany, né? rs).
    Obrigada por compartilhar as fotos e a experiência conosco! :)

    Beijos,
    Cris

    Responder
    • Claudia disse:
      13 de agosto de 2014 às 01:19

      Se tiver tempo, leia um pouco do conteúdo dos links que deixei no final do post – tem informações bem mais legais. Ah… e que bom que gostou das fotos, não economizei, hehe Bjs

      Responder
  5. bluecat disse:
    13 de agosto de 2014 às 12:03

    Adorei o post…. parabens

    Responder
  6. 13 de agosto de 2014 às 16:43

    Claudia querida Parabéns pela linda matéria.
    Obrigada por compartilhar tanta beleza…
    Beijos
    Luci

    Responder
    • Claudia disse:
      14 de agosto de 2014 às 00:15

      Que bom que curtiu :) é muita sabedoria que precisa ser preservada!

      Responder
  7. Anna disse:
    20 de agosto de 2014 às 10:07

    Nossa, demais! Estive no Peru em 2006 e não me lembro de ter ido a Chinchero, uma pena. Se já queria voltar, agora então…

    As fotos estão incríveis! Parabéns!

    Responder
  8. helia disse:
    08 de setembro de 2014 às 07:19

    As informacoes sao fantasticas. obrigada.
    tambem estive la em agosto-2014.
    Sou de Sao Paulo -SP.
    Alguem sabe onde podemos encontrar ou comprar, essa raiz de tingimento?
    obrigada

    Responder
  9. fera disse:
    08 de novembro de 2015 às 22:23

    aaaaaa que massa

    Responder
  10. Alcioneide disse:
    03 de dezembro de 2015 às 19:20

    Estive aí e amei.As indígenas são uma simpatia.Tudo o que fazem é lindo.

    Responder
  11. Caroline de Oliveira disse:
    16 de janeiro de 2017 às 10:47

    Olá!

    Adorei o post e me ajudou muito na minha pesquisa! Você saberia me informar se aqui no Brasil, consigo comprar alguma dessas plantas que são típicas de lá?

    Obrigada!!!

    Responder
  12. Verônica disse:
    16 de maio de 2018 às 22:16

    Por favor me ajudem! Preciso saber qual é o nome daquele casalzinho de bonecos pequeninos vendido nas feiras ( como um broche) que dizem que trazem sorte!
    Ganhei um e gostaria de saber qual o nome!

    Responder
  13. Elena Paiva disse:
    07 de agosto de 2018 às 19:19

    Boa noite Claudia linda matéria. Gostaria de acrescentar que existe um taxista culsquenho José que adora a tradição de sua terra e te leva aos melhores lugares e nos levou a Chinchero adoramos, peças maravilhosas para se comprar a preços super acessíveis. Se interessar posso passar o telefone dele (Minha filha tem). Parabéns pela matéria! Realmente quem for lá vai amar!

    Responder
  14. Elena Paiva disse:
    07 de agosto de 2018 às 19:23

    Boa noite Claudia linda matéria. Gostaria de acrescentar que existe um taxista cusquenho José (Não sei se é assim que se escreve) que adora a tradição de sua terra e te leva aos melhores lugares e nos levou a Chinchero adoramos, peças maravilhosas para se comprar a preços super acessíveis. Se interessar posso passar o telefone dele (Minha filha tem). Parabéns pela matéria! Realmente quem for lá vai amar!

    Responder
Deixe seu Comentário

«
»