Em 1982, quando eu implorava para ganhar a caixa de 36 lápis de cor da Faber Castell (aquela que abria ao meio e ficava parada em pé em cima da mesa, que vinha com os especiais lápis verde-água e rosa-choque), minha mãe sempre contava que na infância ela fazia maravilhas com apenas 5 cores e que, em comparação, meus 12 lápis eram um tesouro. Quando nas aulas de redação o professor dizia “Hoje é tema livre”, a gente perdia um tempão com aquela folha de papel em branco na nossa frente pensando sobre o que iria escrever. Hoje 20 anos depois eu prefiro que alguém me dê um tema, um desafio. Acho que por isso que participo do Illustration Friday (aliás, o tema desta semana é “eletricidade”) ;-) É que agora eu entendo e o que minha mãe dizia faz sentido. A criatividade aflora justamente nesses momentos de aperto, de restrições. Você não precisa dos melhores recursos para conseguir as melhores idéias.
Nos últimos dias, dois exemplos de saídas criativas chamaram minha atenção: um vídeo dos Simpsons e um livro de graphic novel.
Em um vídeo de 5 minutos, estão condensadas em forma de vídeoclipe, as várias cenas do tema de abertura de ‘Os Simpsons’, quando Homer, Bart & cia correm pra se sentar no sofá – “the couch gag”, em inglês. São mais de 230 (!) variações sobre o mesmo tema. Separei alguns screenshots aí embaixo.
Lego / Caçador / De ponta-cabeça / Sauna
Tamanhos invertidos / Olhos / Sem sofá / Flintstones
Pirâmide / Neon / Pop-up book / Convidados
O segundo exemplo deste tipo de criatividade foi quando vi o livro “99 Ways to Tell a Story”, de Matt Madden. Lendo no prefácio, ele explica que o objetivo era recontar a mesma história em quadrinho (uma história simples, de apenas uma página) várias e várias vezes, mas cada vez com alguma variação: seja de ponto de vista, de estilo, de desenho, de influência e assim por diante. O resultado é um livro que faz você se perguntar até onde é que ele vai, o que mais ele pode inventar para chegar na página 99 (são 99 variações!). É claro que algumas páginas ficaram melhores do que as outras – nem todas são a “sacada perfeita” – mas o livro funciona bem como um todo e é curioso de se ler. A próposito a idéia não é original. Matt Madden se inspirou no livro de Raymond Queneau, “Exercises in Style”, um escritor francês que apresentou a mesma história de todas as formas possíveis: em verso livre, soneto, telegrama, sujeito indeterminado, etc. Pra quem se interessou no site do desenhista tem algumas amostras do livro: a história original, versão monólogo, em um único quadrinho, em 30 quadrinhos, com cara de tirinhas de jornal e em forma de mapa.
…e se você gosta de desafios, proponho um exercício: Faça uma lista de 100 coisas que você pode fazer com um clips. As primeiras vão ser fáceis – até porque são mais óbvias. Mas lá pelo número 30 você já vai estar suando… No 60 então, passando mal! Se persistir e continuar adiante, no 90 vai pensar “só mais 10, só mais 10!” e logo logo se chega no 100. Boa sorte!
Voltaremos a falar de criatividade mais vezes aqui no Superziper.
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Também no Superziper: Leia a entrevista com Lilian Higa e conheça como funciona o processo de criação desta designer que tem sua grife própria de jóias, a Lillot.
Adorei o post….foi uma inspiração para mim….as vezes ficamos pensando mais na dificulda de um problema do que em suas diversas soluções…
Que delicia de texto!
Adorei.
Bjinhos
Nossa Cláudia o que eu chorei por essa bendita caixa de lápis!!! Hhahahah e minha mãe vinha com a mesma conversa…eu queria morrer!
A necessidade faz toda a diferença.
Conversava com o meu historiador sobre a diferença das civilizações. Porque os incas eram tão “evoluídos” em relação aos nossos índios, por exemplo.
A necessidade. Porque criar alternativas se você já tem tudo?
Eu já tive braço de violino de isopor (antes de comprar meu primeiro violino), sempre tinha as bolsas mais bacanas da escola (porque minha mãe se recusava a comprar as mochilas caras), e no ginásio, sempre tinha as camisetas mais diferentes e bacanas (opnião dos outros, e minha também hhehe) porque fazia várias aplicações e bordados.
Pelo visto terei de ser sempre criativa hahahhah a grana por aqui é sempre curta.
E adoro ver meu Francesco pegar um marca página e brincar…hora pássaro, hora elefante, hora cavalo, hora dinossauro, hora foguete, hora cobra…
ele faz tanta coisa e eu me mato de rir..
Beijos gelados…nossa hoje aqui em São Paulo tá muito frio!!!
Isso que você escreveu é algo que eu sempre acredito e faço. Muitas vezes alguém já me pegou dizendo que “é com menos que fazemos mais”.
Eu, por exemplo, não ilustro pensando em cores e sabores – quero que aquilo tudo funcione perfeitamente em Preto e Banco – alí na folha nua e crua. Afinal, se precisa de maquiagem para funcionar, é porque não está bom.
Uma lição que eu aprendi na escola de arte que eu carrego comigo até hoje é não usar borracha. Se você não pode apagar os seus erros, você convive com eles e, dependendo do caso, você precisa redesenhar tudo, o que acaba te permitindo reinventar suas idéias originais.
Ótimo post esse! X) E vou bizoiar lá no Illustration friday…
Abraços,
.faso
Eu concordo plenamente!
Quando tenho que fazer alguma coisa específica em um determinado momento (como a redação), prefiro que me dêem um tema, apontem o destino final – e eu me viro pra construir um caminho!
Eu também adoro criar coisas a esmo da minha cabeça, mas aí dependo da inspiração né, tem que ser mais livre, é coisa pessoal!
*ADORO as aberturas dos simpsons!
Um beijão!
Eu concordo plenamente!
Quando tenho que fazer alguma coisa específica em um determinado momento (como a redação), prefiro que me dêem um tema, apontem o destino final – e eu me viro pra construir um caminho!
Eu também adoro criar coisas a esmo da minha cabeça, mas aí dependo da inspiração né, tem que ser mais livre, é coisa pessoal!
*ADORO as aberturas dos simpsons!
Um beijão!
dufi, quando der branco de novo, passa aqui pra reler o texto :-) um mantra, hehehe
vivi, obrigada!
fá, violino de isopor é o máximo. aposto que o francesco vai ter mais brinquedos como esse.
faso, acho que você vai gostar do IF… mas eu não vivo sem borracha não ;-)
bárbara, já estava achando que ninúém fosse comentar os simpsons, é o máximo mesmo!
dufi, quando der branco de novo, passa aqui pra reler o texto :-) um mantra, hehehe
vivi, obrigada!
fá, violino de isopor é o máximo. aposto que o francesco vai ter mais brinquedos como esse.
faso, acho que você vai gostar do IF… mas eu não vivo sem borracha não ;-)
bárbara, já estava achando que ninúém fosse comentar os simpsons, é o máximo mesmo!
Realmente antigamente com pouco (lápis de cor, brinquedos, revistinhas) tinhamos muito, lia várias vezes o mesmo gibi e adorava, tinha poucos brinquedos, mas muitas formas de brincar. Hoje minha filha tem muitos brinquedos e não sabe brincar e logo perde o interesse, precisa de ajuda para criar as brincadeiras, para imaginar… Precisamos resgatar o sentido do ser e não do ter.