Do mesmo jeito que quando a gente viaja, está aprendendo por imersão uma nova cultura do local, eu sinto que folhear e ler livros e revistas antigos é ser transportada para uma outra época, fazer uma viagem no tempo!
Sempre que vejo um livro, revista e até manual de crafts de outros tempos, não resisto e começo a viajar. Fico pensando em quem eram aquelas pessoas. Não apenas olhar as fotos e reparar nas roupas, cabelo e maquiagem. Mas porque aqueles projetos e materiais eram o que as pessoas queriam aprender e fazer.
Separei quatro materiais e fotografei minhas páginas favoritas. Vamos vendê-los agora no bazar Ógente, neste fim de semana (infos aqui). Queria deixar registrado este passado na internet :)
Começando pelo mais antigo!
Este é o “Álbum de Crochet da Casa Midões”, de Lisboa, Portugal. Acredito que seja do final dos anos 50. É uma raridade e felizmente está bem conservada, com pouquíssimos amassados e as páginas todas inteiras! Com mais de 100 motivos para inspirar, este era o Pinterest em preto e branco daquela época. Golas, barras para toalhas, centros de mesa, rendas, toalhas. Mas tudo para quem tinha muito tempo e paciência, para crocheteiras avançadas.
Adorei a gola de cerejinha (daria pra usar hoje numa boa!) e as bordas de toalhinhas super delicadas e trabalhadas.
No final, algumas receitas detalhadas:
Apenas uns 8 ou 10 projetos ganhavam o luxo de ser traduzidos em receitas e explicações. Pelos pontos já dá para notar a quem a publicação se destinava. Nada de iniciantes, afinal as meninas aprendiam crochê na escola, né? Quando viravam adultas, era este tipo de toalhinha que elas iriam fazer…
Próximo: um livro japonês dos anos 70, já com impressão colorida, tanto na capa como nas páginas internas – um luxo!
Este era feito para as sortudas que tinham uma máquina de tricô Memo-Matic da Singer. Ele vinha com cartões perfurados de padrões para repetir em casa. São páginas e mais páginas de desenhos e ideias para criar peças em tricô. No final, ainda tem gráficos no estilo ponto-cruz, de inspiração para criar estampas próprias. Reflexo de uma época em que as pessoas faziam as próprias roupas, mas agora já com a ajuda da tecnologia, que acelerava processos manuais.
Sente só a riqueza dos detalhes! Combinações de cores e desenhos. A cada folha, doze referências. E o livro tem mais de 300 páginas. Calcule quantas ideias… Mesmo sem ter uma Memo-Matic, este livro é perfeito para quem precisa de referências e inspiração, muito legal, um achado! Nunca tinha visto nada parecido.
Agora um em português! O Guia de Crochê da Editora Abril, do comecinho dos anos 80:
Pequeno e compacto, mostra um novo tempo, onde o crochê já era uma arte específica, que nem todas as meninas dominavam. Editoras precisavam retomar os ensinamentos. A capa já mostra a chegada do conceito “faça-você-mesmo”. É um outro apelo, não?
Este sim ensina o crochê desde o começo, é educativo. O material original pertencia a um guia italiano de 1978 e foi traduzido e editado em português em 1981. Com ele, aprendia-se os pontos básicos, aumentos, diminuições, acabamentos. E depois avançava para pontos diferentes (como esse de cobertorzinho da foto) e, claro, projetos para aplicar o conhecimento. Roupas, acessórios, centros de mesa, toaljas, colchas e objetos. Adorei o pegador em forma de tomate – uma das recomendações de trabalhos fáceis e ideias práticas.
Em detalhe, duas sacolas de compras que deixam qualquer ecobag no chinelo :)
Por último, os fascículos vendidos em banca “Lãs e Linhas”, selecionados pela Agulhas de Ouro, da Editora Abril.
Estes já estão mais próximos do que temos hoje em dia. Bem, mas os tipos de fios usados, as cores, as roupas, os cabelos e as maquiagens denunciam a época, hehe.
A folha da revista, dobrada ao meio, virava uma maxificha – com foto de inspiração na frente e detalhes da receita no verso.
Aqui, as instruções são bem mais detalhadas, constam medidas em centímetros de todas as partes. É um novo estilo e uma nova linguagem.
O legal é que com o lote de 32 números que conseguimos, vieram algumas partes da revista, com mais projetos. Vejam que interessante o texto, reflete bem isso…
Reproduzo aqui: “Artisticamente tricotadas, as aplicações e a toalha de mesa trazem um sopro de nostalgia. Lembram os tempos da vovó, quando os trabalhos eram feitos pacientemente com linhas e agulhas muito finas”.
Isso me lembra o filme “Meia-noite em Paris”, do Woody Allen, só que ao contrário. Em cada volta ao passado, os personagens já achavam que estavam vivendo no máximo da loucura e da velocidade. Nesta revista, nos anos 80, estes projetos já eram velhos temas da vovó…
E para mostrar que a moda vai e volta, deixo para acabar, uma página com um tapete cheio de grafismos inspirado na arte mexicana, lindo!