A foto acima é do vestido que abre a exposição ‘Valentino: Thèmes et Variations’, que está em cartaz até o dia 21 de setembro no Museu de Artes Decorativas de Paris (galeria virtual). Teríamos muitas outras para mostrar se logo de cara eu não tivesse sido barrada pelo guarda do museu, que veio me alertar (em francês) que fotos nesta sala eram proibidas. Uma pena, mas compreensível. Em tempos digitais, que as pessoas nem mais pensam antes de fotografar, as fotos afetariam as duas fontes de renda mostra: ingressos e venda de catálogos.
A exposição para mim foi uma grande surpresa. Não sabia o que esperar, porque não tinha me planejado e nem me informado antes – apenas fui. E descobri vestidos e mais vestidos, cada um com preciosos detalhes. Pude conferir de perto o lado craft impecável da alta costura. Os vestidos tinham pregas, costuras, formatos, transparências, rendas e bordados de se admirar sem cansar!
A ambientação da exposição era quase teatral. Salas escuras, mas com fortes holofotes em cima dos vestidos. Eles estava organizados por temas e muitas vezes eram dispostos em seqüência, como se os manequins representassem um momento congelado de um desfile na passarela. Justamente por não poder tirar fotos, eu exercitei muito mais minha observação. E por momentos eu conseguia viajar e me transportar para o momento em que cada uma daquelas peças estava sendo costurada: a escolha dos tecidos, a montagem delicada, a técnica para estruturar os formatos e transformar croquis em vestidos tão impressionantes.
Catálogos à venda na loja do museu / Minhas anotações e rabiscos em um caderninho.
Os mais de 200 vestidos fazem parte de uma retrospectiva dos 50 anos de carreira de Valentino Garavani, estilista italiano em atividade desde 1959. A mostra traz vestidos de várias coleções, mas ao invés de serem organizados por ano, foram agrupados por tema: surface, ligne, volumes, blancs, techniques, animalia, plumes, décors, géometries, plissés, budellini, asymétries, volants, transparences e fleurs. Uma escolha interessante esta, pois serviu também para reforçar a atualidade dos vestidos. A grande maioria você só descobria a data da coleção se se aproximasse do vidro para ler na plaquinha de identificação o ano e estação da peça.
E foi reparando nestas placas que vi como é essencial para uma grande maison se cercar de bons fornecedores. As peças são o resultado claro da excelência na criação e também na execução. Para cada vestido, o museu citava o nome da empresa fornecedora do tecido (plumas, couro e peles) e de técnicas específicas (bordados e flores de tecido). Eu anotei no meu caderninho e transcrevo aqui quem eram os fornecedores do Valentino:
Tecidos:
Abraham, Agnona, Beaux-Valette, Bianchini-Ferrier, Braghenti, Buche-Guillaud, Bucol, Canepa, Clerici-Tessuto, Corisia, Darquer, Forster Rohner, Gamma Seta, Gandini, Gentili, Hurel, Isa Seta, Jermi, Lareno Paris, Lucchini, Luigi Verga, Mery Dentelles, Mosconi, Nattier, Omniapiega, Ostinelli, Ratti, Ruffocoli, Satam, Soieries Chambutaires, Solstiss, Sophie Hallette, Sormani, Stucchi, Taroni
Bordados:
Bead, Emanuelle, Hurel, Lanel, Lareno Paris, Lesage, Marabitti, M.Rinalini, Pagliani-Brasseur, Pinograsso, Shameeza
Flores:
Maison Lemarié, Pagliani-Brasseur
Peles e couros:
Balzani, CIWI Furs, Giacca Pelle, Italian Furs, MMMAR
Plumas:
Galeotti, Maison Lemarié
Sintam o “drama” lendo a descrição detalhada de um dos modelos apresentados:
Automne Hiver 90-91 mod 160
Tailleur-jupe du soir, veste en mouseline rose drapée, jupe en dentelle rose e blanche lamée or pailletté, appliquée de fleurs brodées de paillettes, de perles, de strass, ceronées de plume d’autruche, transparent d’organza bronze, ceinture en satin rose ouatinée à noeud plat. Tissus Taroni et Darquer. Broderie Marabitti.
Só faltou uma coisa: dar créditos aos os artesãos habilidosos, que trabalharam com maestria para dar forma às roupas de Valentino. Uma salva de palmas pra eles!
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Para quem gostou do assunto vale a pena ler (e se deliciar) um artigo publicado na Edição Especial de Estilo da Veja, de 2005, sobre ateliês especializados que trabalham com alta-costura na França. Vários dos nomes citados acima aparecem por lá, com fotos e depoimentos.
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Também no Superziper: Outra estilista venerada pelos crafters atuais e que teve uma vida muito interessante foi Elsa Schiaparelli. Sabe de onde veio o termo cor-de-rosa-choque? Já escrevemos sobre ela aqui.