Tenho uma boa história que aconteceu em junho do ano passado para contar. É velha, não é atual, alguns vão dizer, mas acredito que boas histórias são atemporais e gostosas de ouvir a qualquer momento. Esta é mais uma daquelas que eu coleciono na pastinha de “coincidências” (pra quem curte, tem uma que contei aqui no Superziper em 2008). E, aliás, é uma boa para marcar esse meu retorno mais constante ao blog. O último ano foi puxado e escrevi pouco, menos do que eu esperava, mas foi o que deu.
Mas vamos lá! No finzinho de 2001, vi no SESI da Av. Paulista uma exposição de quadros tão bonita, mas tão bonita, que tive de voltar mais vezes. Primeiro fui sozinha, depois voltei com a Andrea e na terceira vez levei meus pais. Não cansava de ver as pinturas e reparar nos detalhes, parece que eu precisava estar lá de novo guiando as pessoas queridas e dizendo “e neste aqui, olha aquela menininha voltando feliz da escola para casa!” ou “você reparou nessa vovó trabalhando no quintal?”.
A exposição era uma coletânea de mais de cem quadros do pintor japonês Taizi Harada (em alguns lugares, a grafia aparece como Taiji, imagino que seja uma questão de transliteração). A maioria das pinturas eram cenas do Japão rural, mas também tinham algumas do Brasil. No ano anterior ele tinha passado alguns meses aqui no país e retratou alguns lugares como o Rio e Santos em suas telas. Ele compõe o cenário com mini-detalhes, pontilhando os campos, as árvores, os telhados. Olhando de perto, você vê cada lâmina de grama, todas as telhas, as folhas, os pontinhos de neve. Mas são paisagens amplas, com algum personagem em movimento lá no cantinho, fazendo parte da história e chamando a atenção para aquele universo isolado.
Gostei tanto que guardei com carinho o nome dele e um recorte de revista com a reprodução de uma das telas. Pendurei a imagem no meu quadro de cortiça como quem diz “um dia vou visitar o museu dele no Japão”. De vez em quando olhava o meu recorte e prestava atenção nos detalhes. Era a pintura de uma mulher em uma loja de doces, com suas bandejas de madeira expondo os produtos artesanais. Em volta, poucos enfeites, tudo funcional. Um quadro, um relógio, o papel e o barbante para embrulho.
Quando a Andrea foi para o Japão, tinha até pensado em pedir para ela me trazer um poster dele. Mas pesquisei na internet e achei pouquíssima coisa. Ele tem um museu em sua cidade natal, mas é afastado. Está em japonês e não encontrei o link para a lojinha. Então desencanei. Um dia, quem sabe, quando for para Tokyo, posso dar uma esticada até lá.
(efeito especial para passagem do tempo, anos e anos)
Junho de 2012, preparação para a Mega Artesanal. Nessa edição do evento, o Superziper cuidaria da decoração do quarto de costura da Casa da Mega (vídeo aqui). A Andrea e eu planejamos como imaginávamos o ambiente, desenhamos, rabiscamos e, por fim, fizemos uma listinha de coisas para comprar, preparar e trazer no dia da montagem da feira.
Eu tinha ficado de passar em um brechó para procurar umas roupas para colocar no manequim. Lembrei que na rua de baixo de onde mora tinha um, O Mascate chama. Sempre passava por lá, anos e anos, mas nunca tinha entrado.
Olhei as saias e blusas, procurei algo diferente. Empurrei cabides, mexi em algumas araras, mas estava com preguiça. A vendedora tentou ajudar, queria saber para o que era. Eu estava meio cansada, talvez fosse o calor ou fome. Então arrumei a bolsa no ombro e me virei para sair. No caminho tinha um um criado-mudo com livros empilhados. Movida por algum instinto, me abaixei para ver o que tinha lá e achei um livro do Taizi Harada. O livro tinha me encontrado, pedindo para ser levado para casa!
Fiquei pasma. O livro era japonês, estava bem cuidado, um pouco empoeirado ok. Tinha algumas páginas marcadas com post-it, mas estava inteirinho. Entreguei o livro para a vendedora “hoje não vou levar roupas, só isso aqui”.
Contei a história muito por cima e depois de pagar, o dono do brechó que me atendeu no caixa, falou para eu levar comigo um trevo de quatro folhas que ele cultivava no canteirinho do lado de fora da loja.
FIM!
Mas já que agora tenho o livro e não me canso de folheá-lo, posso também compartilhar com vocês algumas das pinturas. O título revela que são quadros inspirados em cem canções de ninar antigas. Mas todo o restante do livro está em japonês. Algumas imagens vem acompanhadas de partitura e das letras das músicas. Mas nenhuma indicação do que seria. Então só me resta olhar os desenhos como uma criança que não sabe ler e ficar tentando imaginar o que acontece em cada uma das páginas.
Há também algumas poucas ilustrações, lindas por sinal (gamei nesses sapatinhos vermelhos com flores!). Mas a maioria são os quadros mesmo. Separei detalhes de alguns deles, com os personagens que tanto me encantam. Passeiam com cachorros, voltam para casa, se abaixam para pegar florzinhas no caminho, limpam a neve, brincam na água no verão. Aliás, em cada quadro as estações do ano são também um personagem. Me sinto viajando pelo Japão, em um trem lento e antigo, sentada na janela reparando nas pessoas do caminho…
Tô cuidando bem do livro, viu? Coloquei em destaque na prateleira e ganhou um post aqui no Superziper!
olá Clá e Andrea,
muito bonito o livro.
desenhos delicados e as imagens levam a imaginação a ir onde você quiser.
realmente não precisa de tradução ou palavras, as imagens falam por si só e dão asas à imaginação.
parabéns pela aquisição e que ela sirva de inspiração para vcs. do superziper.
que vcs. continuem fazendo sempre coisas tão criativas e delicadas.
bjs.
liliblueberries
pode deixar ;) faremos…
guria, que post gostoso de ler! primeiro a arte toda desse artista que é incrível e depois essa coincidencia (convenhamos, nunca é) que essa vida maluca as vezes nos presenteia com coisas assim. demais mesmo, adorei o texto.
beijão :*
:) foi um presente mesmo ^___^ q bom que gostou do texto!
q estória mais linda!!! deu até arrepios , eu até vi vc achando o livro!!! amo as ilustrações japonesas, aliás, o Japão é meu sonho de consumo, ainda vou conhecer…..tenho alguns livros japoneses q ganhei numa troca, e fico que nem vc, olhando as figuras q nem criança tentando adivinhar do que estão falando! amei! bjo
eu gosto dessa sensação de não entender o que está escrito. com as línguas latinas tem palavras parecidas ou algo que dá para tentar deduzir. livros assim são um mistério, um convite para a imaginação!
Linda história! Lindo livro!
Parabéns pelo sensível e delicado relato. As imagens também são muito bonitas.
Fascinante!
Que coisa mais linda! Que delicadeza e riqueza de detalhes!
Estou encantada!
Um abraço!
Oi, Claudia!
Meu coração disparou agora! Minha ex-professora de japonês tem esse mesmo livro… Acho que mais ou menos em 2001 também uma outra prof., a de artes, viu o livro e pediu emprestado para a prof. de japonês…
A prof. de artes fez um projeto de cada aluno (que quisesse, acho que não era obrigatório) recriasse uma imagem do livro pintando com tinta acrílica em tela. Lembro que ela xerocou o livro inteirinho, hehe
Minha mãe tem o quadro que fiz guardado até hoje, vou tirar uma foto e te mandar :)
Mais uma coincidência para a lista!
Beijos,
Cris
Nossa Cris, que coincidência (mais uma!!). Sua professora de artes era muito criativa e sensível. Manda a foto sim, quero ver!!
Oi, Cláudia!
É tão bom quando a gente acha um livro esperado desse jeito! Parece até um presente! O livro é lindo e a história também!
Beijos!
Claudia, cê já leu “O Jogo do Anjo” ou “A Sombra do Vento”, do Carlos Ruiz Zafón? Ambos falam de livros e de literatura. Em determinado momento das duas histórias, a gente sabe que alguns personagens ganham o direito de escolher um livro para proteger, e uma “lenda” que existe é de que o livro em questão é que escolhe seu protetor.
Quando você disse que o seu livro te encontrou, pedindo pra você levá-lo pra casa, associei imediatamente!
Muito emocionante, porque a sua história com o livro do Taizi Harada, assim como as pinturas dele, é cheia de detalhes muito lindos.
Não li, mas gostei da dica, vou procurar! Obrigada :)
que estoria linda e que ilustracoes deliciosas, vou googlar ja.
não tem muita coisa online. Procura por Taizi e Taiji Harada.
Meu Deus!!!!
primeiro mencionei a expressão ao ver as imagens dessa pintura.
Depois novamente ao terminar de ler o post. Que lindo!!!
Acho realmente que essas coisas não acontecem por acaso e nem nos emocionamos e nos identificamos com algo a toa.
Mil beijihos,
Sim sim! Por isso, mesmo depois de seis meses, quis dividir a história! Bjs
Olá e muito obrigada por partilhar esta linda historia e que ilustrações maravilhosas,adorei as cores,a simplicidade
beijinhos de Portugal
Bjs do outro lado do oceano!
Oi Claudia, que linda história! Adorei as imagens, realmente é de se impressionar e nunca mais esquecer… Faz mais ou menos uns 6 meses que descobri o site de vocês, tava afim de aprender a costurar, minha mãe tem máquina, sabe alguma coisa e fui pesquisando na rede para me aprimorar. E meu mundo foi se abrindo para a costura, conheci as Rainhas da Costura, fiz alguns cursos e agora não paro nunca mais! Obrigada por fazerem minha vida mais divertida! Beijos
Ebaaa, que legal! A gente adora histórias assim :)
Claudia, uma preciosidade, o livro e sua história com ele! a vida é gentil né!?
Esses momentos servem justamente para nos lembrar disso!
Ai que post delícia,Claudia.
Quando criança tinha em casa um livro japonês ou chinês(já faz tempo…rs) de uma garotinha chamada FAN, não sei se ainda tem por lá, mas lendo teu post me lembrei que ficava olhando o livro como você, procurando os detalhes…sempre fiz isso com figuras e imagens em livros, muito gostoso. Vou pra casa da Mamãe hoje, quem sabe ainda está lá…te mostro depois. Vou mostrar o post pra minha amiga pianista e japonesa, quem sabe ela consegue cantar essa música que aparece numa foto. Bjo
Muito legal, Claudia. Adoro histórias bem contadas.
Eu acho que quando a gente quer muito uma coisa, de um jeito ou de outro acabamos conseguindo. Foi assim com o teu livro, foi assim comigo com o Grande Livro da Costura.
Beijos
Olá, Claudia!
Que bela história! Agora mesmo, vendo o seu post fiquei sabendo da existência deste artista de alma maravilhosa!
Não tenho um livro dele, mas adorei ver cada pedacinho nas pinturas dele, mesmo no Google.
Obrigada! São essas notícias boas que faz o nosso dia mais feliz!
Vc me fez vajar nesta tua historinha, engraçado que eu vi esta exposição tbem, acho que uma das ultimas que vi, pois estou morando no interior de sp, em itapira e aqui nao tem exposições, para a minha tristeza…enfim…tive a mesma sensação que vc, de levar outras pessoas pra ver a beleza deste artista…. feliz por rever estas obras e acho que guardei o livrinho da exposição…vou procurar. um bjo e espero que um dia vá ao museu dele e nao deixe de nos contar… rs.
que legal que você também foi! se um dia eu visitar o museu, trago de volta uma super reportagem :)
Lindas ilustrações. Fiu direto no Estante Virtual e vi que tem diversos livros do Taizi disponíveis lá. Já vou encomendar um :)
Adoro essas coincidências!
Eu tive igual encantamento quando vi a exposição aqui no Rio, neste mesmo ano. Me marcou para sempre!! Cheguei até seu post porque justamente queria localizar algum livro sobre o artista, quem sabe agora eu consigo, pensei. E não é que me deparo com o seu relato?!! Claro que me identifiquei totalmente e imediatamente!! Boa sorte sempre, Cláudia! Fico com a dica da pesquisa na Estante Virtual. Um abraço!
Claudia, coincidência mesmo… devido ao post no SuperZiper sobre o sorteio do selo vim “xeretar” o blog e te encontrei… Fantástico esse blog. Adoro tudo o que é manual e artesanatos. Me inspirei de verdade. Me escreva contando as novidades e se vc já terminou seus estudos (rsss….) Bjs
E por falar em coincidências, não é que eu também fui nessa mesma exposição?
Foi a última vez que marquei de sair com alguém pelo telefone de casa, porque nem eu nem o meu amigo que foi tínhamos celular nessa época, então o horário e ponto de encontro tinham que ser bem exatos. Hoje temos celular com internet, redes sociais, mas essa exposição foi a última vez que vi meu amigo pessoalmente.
Obrigada por essa lembrança, vou mostrar esse post pra ele =)
Achei linda sua história de reencontro com o Harada. Aliás, não o conhecia até ler o post. Fiquei tão encantada com as pinturas que não descansei até achar algum livro sobre ele. Com a ajuda do Estante Virtual, localizei um sebo aqui em São Paulo que estava vendendo exatamente este livro, mostrado no post, juntamente com outro menor, em português e japonês, que faz referência direta à exposição realizada n Brasil. Há explicações breves para cada uma das canções populares que inspiraram Harada a fazer as pinturas. Pena não terem traduzido as próprias canções…
Espero que ele me ajude a me inspirar para alguns projetos futuros; mas desde já ele me toca fundo por lembrar das minhas raízes nipônicas :-)
delícia de ler as coincidências na tua história.
achei ele pra voce no facebook->> http://www.facebook.com/pages/%E8%AB%8F%E8%A8%AA%E5%B8%82%E5%8E%9F%E7%94%B0%E6%B3%B0%E6%B2%BB%E7%BE%8E%E8%A1%93%E9%A4%A8/336108456501376
Claudia, eu fui nessa exposição e tenho um mini poster do Taizi Harada no meu home office até hoje, para servir de inspiração.
Até hoje me emociono em lembrar dos detalhes das pinturas.
Sou leitora assídua do blog, desde muito tempo, e foi igualmente emocionante encontrar este post escondido aqui. Obrigada pela história!
Abraço! Dani
Estava mostrando o livro do Taizi para minha amiga Maria Dulce, que foi sua aluna em alguns cursos do Sesc Pinheiros. Assim como vc sou apaixonada pelos trabalhos de Taizi e o livro dele me chegou as maos por um acaso em 2001.
Um abraço,
M.Celia
M. Dulce lhe manda tbm um abraço.
Andrea, lembra-se de mim, fiz oficinas com vc no Sesc Pinheiros. Às sextas-feiras, tenho encontrado uma amiga muito querida, Maria Celia. Temos passado as tardes fazendo estudos de aquarela. Hoje entre nossas conversas ela me mostrou um livro de um artista que ela admira – Taizi Harada. Fiquei como ela apaixonada pelo trabalho dele e na mesma hora entramos na internet para sabermos mais coisas sobre sua obra. Vi seu link e comentei vamos ver primeiro aqui pois conheço esta menina. Pudemos constatar a “coincidência”, o livro caiu nas mãos de M.Celia por acaso. A apresentação dele é em uma pequena caixa junto com um segundo livro que tem as partituras de músicas típicas japonesas, escolhidas e pesquisadas por Harada, durante muitos anos. Junto há tbm uma “apostila” com a tradução e explicação de todos os quadros deste mesmo livro. Conta das andanças de Harada em vinte dias que passou no Brasil antes de fazer sua primeira exposição em 2001. Andrea, gostaria de poder marcar um dia destes um encontro com vc e mostrar junto com minha amiga o complemento desta maravilha que vc tbm possui.
Um abraço carinhoso, “coincidências” existem mesmo.
Maria Dulce Flor Perrone.