Ladrilhos hidráulicos são quase uma unanimidade nas revistas de decoração hoje em dia. Voltaram tão forte na moda que até fabricantes de outros materiais (como porcelanato e adesivos) estão usando a estética destas peças como estampas para seus produtos.
Mas o que talvez nem todos saibam é que a fabricação dos ladrilhos é algo completamente artesanal. Visitei uma fábrica perto do Bom Retiro há uns anos quando encomendei peças para minha casa. Aproveitei a compra para registrar o processo de produção, com permissão dos donos da empresa. A técnica de lá foi trazida da Itália, na década de 20, e desde então eles continuam produzindo da mesma forma, mantendo a tradição. Acho que vocês vão gostar de conhecer mais dos bastidores!
Aqui são algumas das amostras de modelos disponíveis (no fim do post deixamos os dados de contato, endereço, etc.). Andando pelo local, com um olhar mais atento, você começa a perceber padronagens iguais, mas em cartela de cores diferentes. Encomendando sob medida, qualquer cor pode ser alterada! Nesta foto também há alguns modelos exclusivos desenhados por artistas e com molde desenvolvido por eles.
A fábrica é antiga, alguns dos móveis continuam por lá desde a época da inauguração!
Os modelos de ladrilhos hidráulicos estão espalhados por todo lugar. Tem na parede, no chão, em mostradores. É muita informação para quem não vai preparado, com alguma ideia já em mente.
As opções de cores são muitas. Há um espaço com os modelos lisos, organizados que nem caixa de lápis de cor, para escolher e combinar. Você pode tirar do mostrador e colocar ao lado de alguma peça “favorita” para ajudar a visualizar. Pensando na instalação, alguns modelos funcionam como tapetes – são colocados com contornos, quinas e “recheios”. De novo, os mostradores foram montados para ajudar nessa visualização.
Leve a planta do local ou a metragem do espaço para calcular o número certo de peças. Como qualquer piso, é bom levar um extra de 10% da área por perdas na instalação. A colocação na diagonal exige uma porcentagem maior, mas o pessoal da fábrica pode informar melhor com base no projeto.
Enquanto eu pesquisava modelos e pensava no que eu levaria, dei uma escapada para entender como os ladrilhos são feitos. Primeiro, uma visão geral do ambiente da fábrica. Os sacos que aparecem na foto são de cimento branco, principal matéria prima das peças. As prateleiras que estão por todos os lados servem para guardar peças feitas em processo de secagem.
Os ladrilhos são feitos um por um, com um molde de metal que dá o desenho à peça – numa comparação bem ampla e exagerada, é como se fosse um estêncil ou cortador de biscoito. Nesta foto abaixo dá para entender melhor: o molde da flor e o ladrilho finalizado.
Mais moldes que encontrei no local. Os que estão na bancada de trabalho, são parte de uma encomenda. Os demais, ficam guardados pendurados na parede, em prateleiras e nas estruturas de madeira do local.
Aqui, a matéria prima. Cimento branco e misturado com corantes agregados dão a conhecida cor. Na foto da direita, bacias com as cores amarelo, verde, vermelho e branco. As cores são preparadas de acordo com o pedido, nas proporções que serão usadas.
Na foto da direita, o molde foi colocado na esteira da prensa. Um funcionário preenche o molde, seguindo o desenho do pedido. No exemplo da margarida que mostramos aí em cima, o contorno é preto, o preenchimento é branco e as pétalas são preenchidas com a cor preta novamente. Ele usa uma concha para depositar a quantidade e cor certa dentro de cada divisão do molde.
Em seguida, ele retira o molde, nivela o cimento e a peça é empurrada para o centro do torno. O torno é o coração da fábrica, é essa máquina gigante da foto à direita aí de baixo. Uma vez no centro, os funcionários giram as hélices, que pressionam a peça até condensá-la totalmente por pressão. O resultado desse esforço é um bloco de ladrilho compacto e firme, com o desenho escolhido.
A peça então é retirada do torno fresquinha – tudo isso para uma única peça. Se o pedido for de 200 ladrilhos, o processo será repetido 200 vezes, do preenchimento do molde até a prensa. Nesta foto dá para ver que a base do ladrilho é de cimento e há uma camada de “tinta” com espessura de cerca de 3 milímetros. É um material de altíssima dirabilidade e que não perde o desenho.
Saindo do torno, as peças vão para secagem. Se não me engano, era algo ao redor de 45 dias, mas depende da umidade, época do ano, etc. Esta é a etapa que ocupa mais espaço físico do local. Prateleiras e mais prateleiras espalhadas por todo o ambiente acomodam os pedidos em processo de finalização.
As peças são embaladas e os pedidos estão prontos para retirada. Fotos do estoque e da distribuição. Imaginem o peso destes pacotes, cada peça é praticamente cimento puro. Tem que ir direto pro porta-malas do carro, não é fácil de carregar.
Por todo o processo que vocês viram acima, não há sobras. O pedido é feito de forma justa e exata. Por ser fábrica, eles farão exatamente o que você precisa, seja na quantidade como nas cores. Mas sempre tem um pouquinho reservado para quem quer levar algumas peças variadas e fazer mosaico para pronta entrega. Vale lembrar que peças avulsas para mosaico você também encontra em cemitérios de azulejos. Enfim, o importante é que, sendo um produto durável por tantos anos, vale investir em pesquisa até você encontrar o que está buscando – seja na questão de regras, prazos e preços!
Na minha casa antiga, o chão da cozinha era quadriculado de ladrilhos em tons avermelhados e creme – adorava! Agora, na nova, comprei sete peças avulsas para colocar no beiral da janela e apoiar as plantinhas
Para aplicar, eles recomendam um colocador que entenda do assunto. O contrapiso deve estar nivelado, não há espaçamento entre as peças (conhecido como “junta seca”) e, por ser uma peça porosa, ao final, para facilitar a limpeza diária, recomenda-se a aplicação de uma resina incolor.
As fotos deste post foram feitas gentilmente na fábrica:
Ladrilar – Ladrilhos Hidráulicos Artesanais, desde 1922
Telefones: (11) 3228-6409 / 2855-1010
E-mail: contato@ladrilhosartesanais.com.br
Site: http://www.ladrilhosartesanais.com.br/catalogo_continuos.php
Endereço: Rua Porto Calvo, 69 – Ponte Pequena – São Paulo – SP, CEP: 01109-070
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Dica! Para quem curte os grafismos dos ladrilhos, sugiro conhecer o álbum do Flickr da portuguesa Rosa Pomar. Ela vem registrando há anos o que por lá eles chamam de mosaicos hidráulicos. São mais de 200 fotos, lindos achados!
Sempre fui encantada com os azulejos hidráulicos.No bairro onde nasci tinha uma fábrica de azulejos hidráulicos.Reconheci alguns modelos que tinha na minha casa.Na cidade onde moro atualmente a igreja católica e algumas residências ainda mantém esse piso maravilhoso.O que me encanta nos azulejos artesanais é que são feitos um a um,são resistentes e não desbotam.
Sempre fui encantada com os azulejos hidráulicos.No bairro onde nasci tinha uma fábrica de azulejos hidráulicos.Reconheci alguns modelos que tinha na minha casa.Na cidade onde moro atualmente a igreja católica e algumas residências ainda mantém esse piso maravilhoso.O que me encanta nos azulejos artesanais é que são feitos um a um,são resistentes e não desbotam.
Que bairro era?
Morava um bairro de Belo Horizonte,chamado Parque Riachuelo e a fábrica de azulejos,ficava na rua Fides.A fábrica familiar,fechou e não sei o que foi feito da fábrica.Essas informações foram passadas pelo meu pai.
Que legal, obrigada por ter perguntado à ele!! Acredita que já vi no Mercado Livre uma pessoa vendendo a prensa pra ladrilhos? Deve ser de alguma fábrica assim que não resistiu e fechou…
Que aula! Muito legal conhecer o processo de fabricação. Na casa da minha avó Trinidad, em Americana, os pisos da cozinha, banheiro e varanda eram de ladrilhos hidráulicos. Saudade. A casa nem existe mais :/
Bjinho
Bonito o nome de sua avó!
Amo ladrilho hidráulico! Me lembra a infância. O piso do banheiro lá de casa era de ladrilho…
Que bom que existem ainda fabricantes tradicionais e que a decoração está resgatando essas peças antigas para os tempos modernos.
http://vimeo.com/36099572
achei q poderiam gostar! :-)
Vivo num apartamento dos anos 50 com a cozinha e casa de banho em mosaisco hidraulico e pretendo que pretendo recuperar, esta sujo e poroso. è possivel poluir e impermeabilizá-lo?
Adorei a reportagem, pois brinquei muito nessa fabrica durante minha infância, nasci nesse bairro e minha amiga é neta dos donos, ainda bem que ela está funcionando e levando beleza a alegria as casas paulistanas