Acabei de voltar de uma curta viagem ao Peru, mais precisamente Cusco e arredores, e fiquei encantada de ter tido a oportunidade de ver os bastidores da produção artesanal. O povoado de Chinchero fica na região do Valle Sagrado. Em um dos passeios às ruínas incas, houve uma parada no pequeno Centro Têxtil Urpi, para conhecer um pouco mais sobre o tingimento natural, técnicas e ferramentas de tecelagem tradicional ainda utilizados pelas mulheres do local.
Atenção: este post contém muitas fotos… Foi difícil fazer uma seleção mais enxuta ;-)
O local é pequeno e bem turístico, uma estrutura pronta para receber grupos de visitantes. Mas tudo muito organizado e bem ajeitado. Eles sabem o que mostrar e o que as pessoas querem ver. Tinha até lhamas!
Os turistas eram levados a este mini auditório bem rústico para ouvir as explicações sobre os processos de tingimento! E para quem precisava se acostumar com a altitude, o famoso chazinho de folhas de coca…
A variedade de tonalidades e cores me impressionou. Na verdade, elas já chamam a atenção nos artesanatos típicos do Peru. Foi muito interessante ver como eram feitas.
Antes de ir às cores, registrei mais duas partes importantes do processo:
1. lavagem da lã: a lã da tosa da lhama ou da alpaca precisa ser limpa antes de tudo. Eles usam o ‘gigantón’ (ou ‘zajtán’), a raiz de um cacto para ensaboar e tirar a gordura e sujeiras. Esta raiz também era usada para lavar os cabelos, também conhecida como ‘shampoo incaico’. Na foto ao lado, coador feito de palha.
Nota: alguns nomes são em castelhano, outros em quechua ou aymara. A escrita tem várias formas, então vou atualizando este post conforme recebo informações mais precisas.
2. mistura com minerais ou outros elementos: a tinta raramente é utilizada pura. Estes aditivos são usados para ajudar na fixação da cor, variar tonalidade e combinar propriedades químicas para atingir o resultado esperado. O limão misturado com a cochonilha suaviza os tons. Na foto do meio, sal da salina de Maras (também desta região).
Mas vamos às cores e de onde vem, que é o que mais interessa.
VERMELHO: A principal cor é o vermelho. Ele vem da cochonilha e rende vários tons e variantes – dizem que até 18!
A cochonilha é um inseto parasita que se alimenta da seiva dos cactos da região. Ou seja, é uma praga! Mas eles descobriram que ele produz um composto de tom avermelhado perfeito para tingimento! Aqui no meu quintal já vi este tipo de pulgão, mas não tão gordos e nem tão abundantes em tinta.
Vocês não imaginam o que uma “bolinha” dessas estourada na mão faz! As meninas comentam que usam nos lábios como batom. E demora para sair. Eu manchei os dedos e no dia seguinte ainda estava rosa.
AZUL:este tom vem da ‘flor de hancas’.
LILÁS: folhas secas de awaipili.
ROXO: água de fervura do milho roxo, que eles chamam de maíz morada. Este milho é muito usado para fazer a bebida típica, ‘chicha morada’.
VERDE: folhas de chilca.
VERDE ACINZENTADO: folhas de kinsacucho, também conhecido como trés esquinas.
VERDE CLARO: folhas de eucalipto.
AMARELO: flor de retama.
OCRE: flor de coli.
LARANJA: cortiça de kehuniya.
TERRA: vem do musgo que nasce em pedras, eles chamam de ‘barba de las piedras’.
Mais alguns detalhes: coco de lhama para ajudar no fogo, artefato de madeira para fiar lã e canecas e utensílios usados no tingimento.
Neste local, é possível também acompanhar o processo de como as artesãs preparam as tramas e tecem fitas, tapetes e mantas. As cores e os desenhos têm significado e contam histórias. Elas sabem tudo de cabeça e brincaram que não usam revistas ou receitas.
No final, é possível comprar produtos feitos pela comunidade. Há bancas com malhas, tapetes, bolsas, luvas, gorros, cachecóis e pequenas lembrancinhas. Não aceite o primeiro preço que disserem – lá, eles esperam que você negocie e peça desconto. Comigo foi assim…
Na tentativa de escrever os nomes das plantas corretamente (não confiem 100%), encontrei na internet alguns artigos bem interessantes e bem mais completos sobre tingimento natural. A quem se interessar, recomendo (conteúdo em espanhol):
. Fórum sobre pigmentos naturais para fibras
. Documento ‘Tintes Naturales’, da Escola de Belas Artes do Peru
. Plantas tintoreas, em Etnobotánica
Para os interessados em conhecer o pueblo de Chinchero, o mais fácil é visitar quando estiver em Cusco. Este local costuma ser parada de quem faz tour pelo Valle Sagrado. De Cusco, é cerca de meia hora de ônibus ou van. Você pode organizar visita através de uma das mais de 1.000 agências de turismo de Cusco ou tentar ir sozinho usando transporte local. Em Cusco, peça informações sobre as vans (as nossas conhecidas ‘lotações’) para Chinchero, um distrito da provincía de Urubamba.
eu quase enlouqueci em chinchero, pela falta de ar e pelas lãs. super hiper mega turistico? certamente. mas ainda assim o maior barato aquelas mulheres todas reunidas explicando o processo de tingimento. comprei 3 bolinhas de lã, que até hoje carregam o cheiro daquele lugar… tão aqui no aguardo de algum projetinho…
sobre a mágica da tintura, tem esse videozito que eu fiz, só pular pro 2:29′:
https://www.youtube.com/watch?v=IegmN346VAk
Ah sim, esqueci de comentar dos possíveis efeitos da altitude. É que quando cheguei em Chinchero eu já estava mais acostumada, pero no mucho. Obrigada pelo vídeo – adorei a trilha sonora do Turbopotamos. Não conhecia, vou pesquisar :)
Olá Claudia, tudo bem? Gostaria muito tirar umas dúvidas com você sobre essa viagem, pois, quero ir para fazer uma pesquisa sobre tingimentos naturais.
Agradeço se puder me contactar via email.
Obrigado.
QUERIA SABER SE VC CONHECE ALGUMA ASSOCIAÇÃO QUE POSSA ME RECEBER!
OBRIGADO.
Olá! Que lindooo! Sou apaixonada por lãs. Minha viagem será para Lima. Alguém conhece algum lugar para comprar lãs por lá?
Obrigada!
Que lugar sensacional! Amei as cores, e todas naturais! Com certeza vai entrar na minha lista de lugares a conhecer!
Cores lindas mesmo, fiquei encantada! Vale a visita :)
Só uma observação: o “artefato de madeira” é um fuso.
Eba, valeu pela informação!
Que incrível, Claudia! Mesmo tendo um apelo comercial fiquei bastante intrigada a respeito das substâncias utilizadas para tingir a lã. Incrível imaginar que isso possa ser feito apenas com produtos naturais (como era antes do tubinho de Guarany, né? rs).
Obrigada por compartilhar as fotos e a experiência conosco! :)
Beijos,
Cris
Se tiver tempo, leia um pouco do conteúdo dos links que deixei no final do post – tem informações bem mais legais. Ah… e que bom que gostou das fotos, não economizei, hehe Bjs
Adorei o post…. parabens
Claudia querida Parabéns pela linda matéria.
Obrigada por compartilhar tanta beleza…
Beijos
Luci
Que bom que curtiu :) é muita sabedoria que precisa ser preservada!
Nossa, demais! Estive no Peru em 2006 e não me lembro de ter ido a Chinchero, uma pena. Se já queria voltar, agora então…
As fotos estão incríveis! Parabéns!
As informacoes sao fantasticas. obrigada.
tambem estive la em agosto-2014.
Sou de Sao Paulo -SP.
Alguem sabe onde podemos encontrar ou comprar, essa raiz de tingimento?
obrigada
aaaaaa que massa
Estive aí e amei.As indígenas são uma simpatia.Tudo o que fazem é lindo.
Olá!
Adorei o post e me ajudou muito na minha pesquisa! Você saberia me informar se aqui no Brasil, consigo comprar alguma dessas plantas que são típicas de lá?
Obrigada!!!
Por favor me ajudem! Preciso saber qual é o nome daquele casalzinho de bonecos pequeninos vendido nas feiras ( como um broche) que dizem que trazem sorte!
Ganhei um e gostaria de saber qual o nome!
Boa noite Claudia linda matéria. Gostaria de acrescentar que existe um taxista culsquenho José que adora a tradição de sua terra e te leva aos melhores lugares e nos levou a Chinchero adoramos, peças maravilhosas para se comprar a preços super acessíveis. Se interessar posso passar o telefone dele (Minha filha tem). Parabéns pela matéria! Realmente quem for lá vai amar!
Boa noite Claudia linda matéria. Gostaria de acrescentar que existe um taxista cusquenho José (Não sei se é assim que se escreve) que adora a tradição de sua terra e te leva aos melhores lugares e nos levou a Chinchero adoramos, peças maravilhosas para se comprar a preços super acessíveis. Se interessar posso passar o telefone dele (Minha filha tem). Parabéns pela matéria! Realmente quem for lá vai amar!